segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Perfume, sabor veneno

O silêncio foi rompido por um tapa na cara que ela não merecia.
Ficou muda.
Pensou que talvez tenha dado motivos.
Eles se amavam e brigas são normais entre os que se amam.
...
Será?
Pensou ela em seguida.
O dia foi longo. E ter que trabalhar foi mais estressante ainda.
Ela chegou cedo e preparou o jantar.
Ele chegou tarde, bêbado e jogou o jantar pela janela.
Hora de dormir.
Ele queria.
Ela não!
Naquela noite ela descobriu que o "amor" também viola. E que um não, não é resposta.
"Mas, acho que ele tem direitos".
Pensou ela.
Não sabia ela que provas de "amor" iguais aquela seriam constantes.
Os dias passavam e ela sentia-se cada vez mais só e chorava no escuro com mais frequência.
Tudo era motivo para que ele se zangasse.
Uma roupa "insinuosa".
Uma olhada.
Um sorriso.
Um minuto de atraso.
Sua vida era uma angustia completa. Não tinha filhos e nem os queria!
"O munda já tem desgraçados de mais."
Pensava ela.
Um dia, depois de uma longa noite de espancamentos, algo gigantesco dentro dela nasceu!
Não sabia ao certo o que era, mas de alguma forma sentia-se viva.
Cheia de hematomas, mas viva!
Sabia que não adiantava reclamar.
Denunciar.
Fugir.
Não adiantava nada disso!
Sua mãe passou a vida todo sendo espancada pelo seu pai.
E cuidou dele na doença até a morte.
Silenciosamente, começou a executar seu tão determinado plano.
Os dias se passavam e ele a tratava com mais desprezo.
Os espancamentos também aumentaram. Mas ela continuava silenciosa. Silenciosamente ativa.
Dois dias mais se passaram.
Em um domingo pela manhã ela despertou.
Ele não.
Ela foi para a cozinha preparar o café da manhã com tudo o que ele mais gostava.
Voltou ao quarto para desperta-lo.
Uma mancha imensa de sangue empapava toda a cama de brancos lençóis.
Pensou:
"Desgraçado!
Comeste pó de vidro vários dias! Você não me espanca mais!
Você não me estupra mais!
Você não existe mais!"
Agora, tudo seria diferente!
Ninguém jamais suspeitaria dela. Estava livre!
De súbito ela despertou. Sentiu que tudo não passava de  um deja vu de lembranças futuras.
Algo relacionado ao seu estupido namorado.

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Xilofone solar

Um fragmento de luz solar refletiu nos meus óculos escuros.
Em uma fração de segundos vi meus cílios microscopicamente aumentados no meu olho direito.

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